segunda-feira, 26 de setembro de 2011

sábado, 3 de setembro de 2011

One night.


8h46. – ?


Uma exaustão de viagem. São mares terríveis estes daqui.
Tenho-a em vista desde que embarcou silenciosamente no porto em WarsLand. Vestia uma capa negra por cima das roupas, sugerindo luto. A única vez que levantou os olhos foi para mirar um pássaro que cortava o céu cinza; tinha os olhos rasos de lágrimas.


8h47. (dias depois) – ?


Escutei-a essa noite, soluçando durante o que me pareceram horas. Crente que ninguém a ouvia deixou o desespero invadir seu coração, entregou-se às tristezas misteriosas.
Óh céus! Já não posso mais vê-la em dor. Já não agüento...


8h46. (dias antes) – C.


Finda minha aflição! Embarquei sem destino, sem aviso, nesse navio de perdição. Foi pura covardia, um ato desesperado; a falta de coragem para abreviar minha vida me deixou uma única escolha: deixar tudo para trás. Não trouxe santos, imagens ou altares. Sacrifico minha fé com olhos cegos pela descompreensão. Mas pergunto se deveria lutar até a morte pelo que acredito ou se deveria morrer só, durante a jornada, rendida...completamente abandonada.
Ora, não encontrando resposta alguma, abandonei a mim mesma!


8h47. – C.


Cristo! Não mais te creio. Alguém tem piedade de mim? Essa dor no peito me tortura lentamente. Já não posso mais. Mata-me! Mata-me!


8h48. – ?


O dia acaba de raiar. Ela circula entre a tripulação sem ser notada. Um fantasma frio e gracioso.
Assim que a percebo meu coração ameaça desandar. Os cachos negros, cor de abismo, emolduram o rosto abatido pelas lágrimas da madrugada anterior, no entanto, ainda assim, ela possui uma força selvagem, capaz de arrebatar qualquer um que se coloque à sua frente.
O que? Ela olha pra mim de relance, como a pedir socorro? Enlouqueço? Ou ela me nota desde o dia em que embarcou nesse navio agourento?
Quando consigo compreender o que estava prestes a acontecer é tarde demais.
Em um movimento rápido ela se atirara nas águas salgadas.


“Homem ao mar”


8h51 – ?


Seguro uma das mãos da estonteante mulher. Quero salvá-la, minha aflição aumenta. Está tão imóvel que chego a duvidar que seu coração ainda bata. Mas bate!
Saio da cabine e choro em silêncio, imaginando o que ela teria feito, qual pecado cometera para chegar ali. E porque os céus queriam arrancar impiedosos, a vida daquele anjo terreno...nossa...


8h52 – C.


Sinto dor. Muita dor. E...sangue? Não seguro o grito agudo e então sinto duas mãos segurarem as minhas com força, como se tentassem impedir aquele sofrimento. Em alucinações me perco. Não me deixe! Sejas tu quem fores. Mas sei! Te reconheço!...
A dor quase silencia, e aquecida adormeço...


8h53 – ?


Rezo dias e noites para que ela melhore. E tendo superado a maior aflição, vejo, lentamente, a cor voltar-lhe à face. Toda vez que abre os olhos me procura e encontrando-me, estende os braços como uma criança. Não a deixo, um segundo sequer.


(continua...)