terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Behemoth- Transylvanian Forest

Love through Suicide




Tomou todos os comprimidos que encontrou pela frente. Estava bêbada, vinho barato. A música, altíssima, arrancava-lhe os últimos resquícios de sanidade. As embalagens vazias de remédios caiam da pia estreita por todo o chão do banheiro. Cantava alto, “It’s a nightmare, but its clear, it will end...” pura embriaguez. Derrubou um frasco de algo qualquer e as cápsulas rolaram para fora do banheiro.
- Parem de escapar....!
Estrago feito, caminhou aos tropeços pela casa e deitou-se no sofá da sala. Tudo rodava, mesmo de olhos fechados. As luzes estavam apagadas e como de costume ela deixara três velas acesas, uma em cada canto do cômodo, de modo que formassem um triângulo invisível. Magia. Revelação.
Estavam acostumados a conviver com o sobrenatural e buscavam todas as maneiras de se aproximar dessas forças ocultas.
“Everyone I Love is Dead!”
Esperou. Não demoraria nada. Seria rápido. Já não podia mais suportar o que fizera. O homem que a amava morava ali a contragosto. Hoje viveriam muito melhor se ela tivesse sido um pouco mais decidida. Esticou o braço e sobre a mesa encontrou um pedaço de papel. Fez um esforço, sentou-se no sofá e do sofá escorregou para o tapete felpudo. A mesa estava cheia de papéis, partituras, rabiscos, contas. Contas a pagar. Encontrou uma caneta e começou:

“Me perdoa. Até agora nada está acontecendo como tu imaginaste..”

Mais embaixo, muito mal escrito:

“Só poderei amar aquele que me salvar”…

E deitou no chão, olhando para o teto onde brilhava o reflexo laranja da luz de velas. Não conseguia fixar os olhos em nada. Sentiu-se distante, parecia que o corpo tinha ficado pesado e apenas a consciência funcionava. A madrugada começava a esfriar. De repente uma sensação impressionante a pegou de surpresa. Começou a sufocar. Não importava o esforço que fizesse para respirar, o ar não entrava. A asfixia fê-la explodir em lágrimas arrependidas. O medo começou a enegrecer aos poucos sua visão. As veias, entupidas de química, impediram-na de agir.
Apagou.
Mas ele estava vigilante. Sabia que cedo ou tarde Lilith tentaria suicidar-se. E era assim que pretendia salvá-la daquela apatia que habitava seu corpo. E naquela noite, o show ainda não havia terminado, desceu do palco sem maiores explicações e voltou para casa.
Antes de abrir a porta já sabia o que ia encontrar, o volume do som estava muito alto, e a casa assustadoramente silenciosa. Precisava procurá-la. As pernas tremiam. Poderia ser tarde demais?
Abriu a porta do banheiro, pisou nos comprimidos caídos esfarelando-os; nada. Fez a última curva e encontrou-a quase no escuro, caída entre o sofá e a mesa de madeira. Sonhava?
Atirou-se sobre seu corpo envolvendo-a como pode.
- Meu amor, estou aqui, estou aqui...
“You are the first, you’ll be my last....ahhhh!”
Recobrando a consciência por instantes abriu os olhos. No escuro conseguiu enxergar apenas a sombra de seu Lord, e nada conseguiu dizer. Seu coração de pássaro ficou leve e ela sentiu vontade de voar tão feliz estava.
- Fique comigo mais um pouco corvo...não se vá...
E o pássaro olhou para trás, prestes a atravessar a porta, desdobrou as asas e voltou. A porta se fechou.
O líquido escorreu pegajoso para dentro de suas veias e sangue vivo preencheu a seringa. As vozes se misturavam. Uma sensação de ânsia. Dor, arrependimentos, alucinações. De repente as visões tenebrosas cessaram. Uma sensação de latência tomou todo seu corpo. “Campos verdes...” e continuou vagando por lá, escutando sussurros de seu Lord. Tudo estava tão devagar. O vento vergando as folhas gentilmente, os rios e flores..perfume de rosas...”rosas...”
- Volte, volte para mim...
E mais uma vez a visão cessou. Dessa vez a alma tinha mesmo retornado ao corpo de Lilith, que não abriu os olhos, apenas fechou suas mãos, que cruzadas sobre o peito, encontraram o caule de uma rosa. Ao lado, imerso em sombra, seu Lord deu um sorriso aliviado e tomando-lhe as mãos deu-lhe um beijo silencioso. Guardada em seu bolso, escrita sobre um trecho de um conto de Lovecraft, estava a carta de despedida interrompida...
- Lilith....é tudo como imaginei...


†Corvo†
- Memórias de uma quase...-

. . .


It was such a beautiful and endless dream
I walked through paths forgotten by mankind
I saw gardens so unusual, frozen in time

But it was inside a dark cyclopean building buried in to the snow
Where my ears were filled by a strange dark melody
That I found her, so quiet, staring at me

Her beauty was envyed by the angels themselves
Like she felt from Heaven in the distant skies

She seemed to be a nymph from the old tales
Parallyzed, like a statue from ancient times

I couldn’t resist getting closer to her
We should knew each other from countless centuries
And that’s the reason, (the only reason) for she was calling me so intense

I finally touch her milky white skin
So cold but so sweet...
I smiled, despite the smell of the dead that embraced me...

I closed my eyes, and possessed by her
I kissed those dark rotten lips

I felt like i’ve born only to stay at her side
As my very soul was being sip

And I still don’t know if I ever I woke up
When I opened my eyes, I screamed, possessed by despair
I saw nothing but darkness, and the smell of death I felt in the air

She took me to me to be hers
As I was doomed, in that claustrophobic place
I’ve been buried alive in her cold forgotten grave

But I knew it was only matter of time before Death to come
And then I’d love her forever, in the depths of the abyss

In a state of frenzy, I made love with her rotten cold body
And I keep waiting not to wake up and not to forget, the taste of her dead kiss.


- Lord Insólitus -
imagem: Monastery Graveyard in the Snow, Caspar David Friedrich, 1817. Do blog Smatterings of Reverie.
" E o sorriso desapareceu nas lágrimas..."

Se dissesse que não sabia como havia chegado ali seria mentira.
Com o passar dos anos o caminho, a cada passo, se tornava mais tortuoso
Sei que precisava sentir...e a única forma de amá-lo seria através do suicidio...