terça-feira, 31 de agosto de 2010

Nachtschatten


No chão. Os caracóis negros espalhados sobre as lajotas frias, rachadas pelo tempo. Uma de minhas mãos sobre a tua. Teus olhos postos nos meus, provocantes ou delirantes? Embriaguez perpétua, vinho tinto! Teus longos cabelos e a barba escondem teu sorriso satisfeito.
As grades baixas do jardim nos separam da rua escura. Nenhuma luz sequer. Apenas nosso esquecido quintal. Como num filme em branco e preto decadente. Entre cortes toda nossa história. E o vento sopra mais frio. É ela quem nos chama. Ainda não....
E a neblina desce comovida. Madrugada adentro, nosso silêncio permanece.
-Lord, vou congelar...
Tu me prendes em teus braços, me aquece com teu beijo eloquente.
Me arranca suspiros, me faz....

dizer-te...

quebrar o silêncio....

- ahhh.....

Enquanto, invisíveis, os astros cruzam o céu,
Dessa noite que nunca amanhecerá

† Corvo †
-Memórias -

Red Light


A escuridão

traz a ausencia,

e preenche o vazio que

desola meu peito.

O vento carrega

o cheiro do sangue

ao longo da ponte;

Aqui de cima

meu coração aberto sangra

Lá em baixo

o neon vermelho

do famoso Puteiro.

30 cães me perseguem

farejam a morte

Como souberam?

Hoje, jantam com sorte!!!



†Corvo†


domingo, 29 de agosto de 2010


Esticou o braço para pegar algo que brilhava sobre a mesa. A mobília da sala era escura, suas prateleiras cheias de livros expunham a singularidade daqueles que ali viviam.
De costas para a janela, sentada na poltrona de espaldar alto, seus braços contrastavam com os móveis. Ela era a única matéria que refletia a luz pálida daquele dia.
Tinha os olhos postos no objeto frio que segurava entre os dedos. Um nó na garganta, o coração batendo aflito, muito desperto. Inspirou fundo, e silenciosamente. Esticou os braços nus e colocou-os sobre seus joelhos. A poltrona era larga o bastante para que apoiasse os pés sobre o couro antigo.
Lágrimas começaram a escorrer silenciosas. Instantes depois explodiu num choro agônico. A lâmina atravessou sua carne, de um lado a outro. E o sangue brotou tinto, incandescendo-lhe a brancura. E a dor fez com que se levantasse da forma que pôde e fosse cair no chão, com as costas apoiadas sobre a muralha de livros.
Sentia as pernas tremerem, o estômago revirar quando os soluços acabavam com o ar. As tripas queriam lhe sair pelos olhos e as lágrimas encharcavam sua roupa. Os cabelos grudavam em sua testa. Era bela chorando. Os cabelos negros e ondulados fazendo a moldura dos olhos dilatados e expressivos.
A chave virou na fechadura. A porta rangeu ao ser aberta e o sorriso do homem que a amava desapareceu.
A cena arrancou-lhe qualquer palavra. Com os braços esticados sobre as pernas, tombando para um lado, Lilith sangrava mortalmente; aos prantos.
Ele sentiu suas pernas fraquejarem. As cores desapareceram de seu rosto atordoado.
Com um grito de desespero conseguiu forças para cruzar a portentosa sala. As lágrimas lhes eram inevitáveis.
Ela, um tanto assustada com o horror que causara em seu Lord e com o sangue que inundava o chão, fez mais um corte profundo em seu braço direito:
- Deixe-me. Deixe-me!
- Meu amor, o que acont.....
Abaixou-se, levantou seu corpo ensangüentado com dificuldade. Desistiu. Não havia tempo. Colocou-a estirada sobre o sofá, pegou o telefone e ligou para a emergência.
Enquanto tentava explicar, em prantos, o ocorrido pelo telefone, olhava-a no sofá; tinha desmaiado.
A mulher que amava morria. Estava perdendo a vida como sempre desejara ardentemente. Seu ventre arquejava penosamente para cima e para baixo. Estava difícil respirar.
Penoso telefonema feito, correu para junto dela. Tirou sua camisa e enrolou sobre seus ferimentos profundos, fazendo um torniquete. Colocou-a em seu colo. Estava quase deitado junto dela. O socorro não podia tardar. Continuava em prantos. Nenhum outro ruído a não ser os soluços e palavras abafadas. Puxou-a para mais perto de seu coração:
- Não me deixa, Lilith... – os dentes semicerrados, mal conseguia falar – meu amor...
Quando o socorro chegou, foi muito difícil fazer com que ele soltasse o corpo da garota. Foram preciso três pessoas para convencê-lo de que ela ainda tinha alguma chance de sobreviver.
A sala ficou vazia. O sangue brilhou iluminando os móveis por algumas horas.

† Corvo †
- Silêncio Absoluto -

Soft Spell



North Wind
Brings me your soft spell...
I can't understand a word
So You better shut up!
'Cause I hate you
'Cause I fucking hate you!

You're not half the man
I thought you were,
You're the worst
with your venomous words
I prefere to sleep with
a pile of empty shit
(soft shit smell, hunnn!)

You can burn a thousand times
A hundred years for each lie
And there will be no soft spell
To take you out of this HELL.



(é pra ser uma letra...ahaha se alguém tiver alguma idéia pra complementar...estamos aceitando sugestões)
pintura: Gust of the Wind, de Levy-Dhurmer.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

De John Keats

Bright Star
Bright star! would I were steadfast as thou art
Not in lone splendour hung aloft the night,
And watching, with eternal lids apart,
Like Nature's patient sleepless Eremite,
The moving waters at their priestlike task
Of pure ablution round earth's human shores,
Or gazing on the new soft fallen mask
Of snow upon the mountains and the moors
No, yet still steadfast, still unchangeable,
Pillow'd upon my fair love's ripening breast,
To feel for ever its soft fall and swell,
Awake for ever in a sweet unrest,
Still, still to hear her tender-taken breath,
And so live ever or else swoon to death.

- John Keats -


Astro-Fulgente

Fosse eu imóvel como tu, astro fulgente!
Não suspenso da noite com uma luz deserta,
A contemplar, com a pálpebra imortal aberta,
Monge da natureza, insone e paciente
As águas móveis na missão sacerdotal
De abluir, rodeando a terra, o humano litoral,
Ou vendo a nova máscara – caída leve
Sobre as montanhas, sobre os pântanos – da neve,
Não! mas firme e imutável sempre, a descansar
No seio que amadura de meu belo amor,
Para sentir, e sempre, o seu tranqüilo arfar,
Desperto, e sempre, numa inquietação-dulçor,
Para seu meigo respirar ouvir em sorte,
E sempre assim viver, ou desmaiar na morte.


A história de Keats, nem me atrevo a contar...

Tradução: Blog o Mito de Pandora. Imagem: Bright Star Movie, 2009, de Jane Campion, pela Playarte.

Harikiri


Enquanto mantiveste a chama acesa
tive luz nos momentos de mais profunda agonia
Fantasmagóricas imagens projetadas na parede
revelavam a mulher corrompida que me tornara
O desespero e a culpa alimentavam teu fogo
E as chamas incandesciam ainda mais ferventes

Um vento mais forte e a luz se apagou
Na escuridão contemplei toda a verdade
Num lapso de lacônica certeza
tua bela imagem desapareceu
Tarde demais!
Entre cinzas meu Herói faleceu.

† Corvo †
- Memórias...-
imagem: não encontrei o autor dela, mas dou os devidos créditos

sábado, 21 de agosto de 2010

Hécate





"Foi considerada como deusa que preside à magia e aos feitiços. Está ligada ao mundo das sombras. Surge aos magos e às feiticeiras com um archote em cada mão, ou na forma de diversos animais: égua, cadela, loba etc. É a ela que se atribui a invenção da feitiçaria, e a lenda a incorporou à família dos magos por excelência: Circe, Eetes e Medeia. Com efeito, tradições tardias dizem que Circe é filha de Hécate e ora mãe, ora tia de Eetes e Medeia.

Hécate, a deusa grega das encruzilhadas; desenhada por Stephane Mallarmé em Les Dieux Antiques, nouvelle mythologie illustrée (Paris, 1880).Medeia se diz sacerdotisa de Hécate, e sempre está no altar da deusa, em suas invocações. Hécate era uma divindade misteriosa, às vezes identificada com Ártemis (deusa da Lua - esplendor na noite de Lua cheia; e as trevas e seus horrores) -, às vezes com Perséfone (Hécate é a deusa dos espectros e fantasmas). É a deusa da bruxaria e do encantamento, e acreditava-se que vagava à noite pela terra, vista somente pelos cães, cujo latido indicava sua aproximação. Hécate, nesses passeios, estava sempre acompanhada por seu séquito de espectros, entre eles Empusa.

Como feiticeira, Hécate preside às encruzilhadas, que são lugares preferidos da magia. Ali se ergue sua estátua, na forma de uma mulher com três corpos ou três cabeças. Essas estátuas eram abundantes nos campos da antiguidade e junto delas colocavam-se oferendas."

(...)

"Algumas vezes Lilith é associada com a deusa grega Hécate, "A mulher escarlate", um demônio que guarda as portas do inferno montada em um enorme cão de três cabeças, Cérbero."

A pintura é de William Blake, que não foi só poeta (como pensava até então). A obra é de 1795 e retrata Hécate, com suas três personalidades. Através de mais pesquisas na internet, descobri que Hécate é citada inúmeras vezes na obra de Shakespeare.

Me assombro em como as coisas estão ligadas....


Fonte:
Wikipédia: Lilith, Hécate, William Blake, Shakespeare.
E outros sites aleatórios

F5 no Lavoisier

A questão é que nunca podemos ter tudo o que queremos. A vida é feita de trocas e energias que se balanceiam. Se você almeja muito alguma coisa, para conquistá-la você perderá outras. Não adianta, sempre perdemos. Aí vocês podem pensar: "tudo bem, perdi algumas coisas mas consegui o que mais queria." Nessa lei da compensação, que para um corvo faz muito sentido, temos que pensar o que se pode perder, de que vamos abrir mão, e sentir o que vai acontecer conosco quando fazemos um sacrifício grande. Na verdade, todo o sonho que depende apenas de nossa boa vontade, é possível de ser concretizado, ainda que com muito esforço. Agora, se esse sonho envolve outra pessoa, saiba que ele tem chances de não dar certo.
Sim, porque às vezes, nosso maior sonho não se concretiza devido às circunstâncias. E, para viver parcialmente esse sonho, nos sujeitamos a situações que destroem o que somos por dentro. (Não que ligue muito para destruir o que tenho por dentro, na verdade acho que tem várias formas de destruição....e algumas, observando agora, friamente, não são válidas.)
Então, a maior dor é decidir deixar esse sonho de lado, o sonho mais violentamente desejado, e superar. Mas agente supera, porque a lei da compensação existe.
Quando o sofrimento estiver no limite do que você pode suportar, pare de chorar. Apenas repare, enquanto você soluça jogado no chão. Você abriu mão do que mais desejava, então milhares de outras coisas vão acontecer........................... !

† Corvo †

Shakespeare

"These violent delights have violent ends
And in their triumph die, like fire and powder,
Which as they kiss consume"


William Shakspeare, Romeu e Julieta, ato II, cena VI

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ato 5, cena 3




Tenho-o à minha frente,
Entre os raios de sol
o tempo congela.

Fria manhã nascente
Fazemos nosso palco
a antiga capela

Óh!
Não traga sofrimentos e mentiras
Traga-me a certeza de um amor
Consome minha alma
Consuma nosso ato,
Liberta-me de toda dor

†Corvo†
- Memórias....-

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

(des)


Quero despir-me no altar,
descer os degraus em tua direção.


Finda idolatria,
Da musa sois agora inpiração.




† Corvo †
- Memórias de uma quase Vida -