segunda-feira, 27 de setembro de 2010

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A noite sonhava, tão tarde era. No bosque úmido aguardava nervosa o momento. Ao sentir o sinal elevei minha voz que ecoou rapidamente entre os troncos e logo depois perdeu-se nos vazios inomínáveis daquele mundo:

- Criaturas da noite! Aproximem-se! Como já sabem essa é a madrugada escolhida. Ele deve morrer. Não se esqueçam, deve morrer sorrindo!

Ao pronunciar as palavras senti as figuras horripilantes aproximando-se em trajes desconhecidos. Eram formas indecifráveis. Tinham os olhos vidrados postos em mim. De releançe, entre seus risinhos anciosos, vi faiscarem as presas proeminentes.

Éramos um organismo vivo e tínhamos um pacto para cumprir. Enfim estaríamos libertos e meu corpo descansaria eternidades, devorado aos poucos pelos vermes, a alma liberta vagando entre universos e manipulando elementos. O Fim daquela tortura secular.

Ouvímos então um urro escabroso. Era ela, minha querida besta guardiã do Inferno. Cada molécula de meu corpo entrou em sintonia com aquela grandeza. O momento feriu minha alma e uma lágrima queimou, fervente, meu rosto. Raiva, saudade:

- Avante criaturas da noite! É nossa hora! Somos um, nada tememos!

Berros foram destilados pela horda. E a grande massa passou a mover-se. Patas, pés e garras abriam caminho destruindo as plantas mais frágeis, cobrindo aquela terra de homens e deuses. A cada segundo a distância diminuía.


†Corvo†

- Sonhorama -
imagem: RooTube

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